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sábado, 20 de setembro de 2014

“É preciso restabelecer a confiança do empresariado na política econômica”


Sábado,20 de setembro de 2014

Entrevista - Eduardo Giannetti 

DOUTOR EM ECONOMIA

Anna Ruth Dantas
Repórter

O economista e filósofo Eduardo Giannetti é contundente ao defender a Meta da Inflação para 2015 em 4,5%. Para ele é possível cumprir esse percentual, desde que o Brasil retome a sua situação de desenvolvimento e esse objetivo passa pela volta dos investimentos no país. “O que nós vamos fazer é tirar o país da recessão porque vai se restabelecer a confiança do empresariado na política econômica, os investimentos que vêm caindo no Brasil há quatro trimestres, na medida em que a confiança voltar, vão acontecer de novo”, disse o escritor. 

Adriano Abreu

Eduardo Giannetti, doutor em Economia

Apontado como um dos responsáveis pelo programa de governo da candidata Marina Silva, Giannetti avaliou que as críticas feitas pela presidente Dilma Rousseff ao projeto de autonomia do Banco Central foi uma tentativa “oportunista” para tentar criar o ruído em algo “necessário”. Giannetti explicou que a autonomia significa a garantia de que o Banco Central terá independência para poder cumprir a meta que será definida pelo Governo Federal. Confira a entrevista concedida por Eduardo Giannetti, na noite anterior a palestra que ministrou no Fórum Econômico Imobiliário:

Por que tanta polêmica em torno da defesa da autonomia do Banco Central? A que o senhor credita isso?
A uma tentativa da candidata do PT de atacar a Marina (Marina Silva) de todos os meios possíveis, inclusive, indo contra o que a própria Dilma (Dilma Rousseff) em outras ocasiões já disse que era a favor da autonomia do Banco Central. Acho que eles aproveitaram de uma forma oportunista essa defesa que fazemos da autonomia formal do Banco Central para tentar criar um ruído, uma confusão e ludibriar o eleitorado. 

Mas a defesa contundente de autonomia do Banco Central não pode prejudicar a candidata Marina no desempenho eleitoral?
Não vejo isso porque ela conseguiu esclarecer muito bem. A autonomia do Banco Central não significa que o Banco Central vai ter autoridade para estabelecer as metas. Significa apenas que ele terá independência para poder cumprir a meta que será definida pelo chefe de Estado do Executivo, que é a presidente da República. É um sistema adotado pelas principais democracias do mundo, pelos Estados Unidos, pela Inglaterra, Japão, Alemanha com grande sucesso e não há porque o Brasil que está caminhando para ser um país mais institucional não adote também esse modelo que é vitorioso.

O pré-sal é outro ponto polêmico que gerou bandeira para o PT. Qual a relação que o senhor faz do pré-sal e a participação da Petrobras?
Marina nunca se colocou contrária ao pré-sal. O que ela disse é que dará ênfase as fontes de energias renováveis, o que não significa que ela não vai desenvolver e explorar algo que é muito importante para o Brasil que é a riqueza do pré-sal. Agora o que nós como nação temos que ter muito cuidado é na destinação correta do uso do pré-sal. O que ocorreu agora na Petrobras na medida em que ela foi aparelhada pelo PT para isso tudo que nós descobrimos estarrecido causa muita incerteza em relação a capacidade da Petrobras, se não mudar de rumo, de poder fazer com competência o papel estratégico que lhe cabe dentro do modelo do pré-sal. A Petrobras precisa ser recolocada na sua seriedade, na sua competência, com quadros técnicos qualificados para poder cumprir o papel importante que ela tem nesse caminho. 

Ainda nessa seara econômica, o senhor concorda que a Meta da Inflação precisa ser aumentada para 2015?
Não. A meta da inflação continua sendo o centro, 4,5% e nós vamos trabalhar seriamente, caso eleitos, para cumpri-la no menor espaço de tempo. Evidentemente, evitando um prejuízo maior para o país. 

Mas nesse quadro econômico que o país se encontra de recessão é possível manter essa meta?
A recessão é uma realidade. O que nós vamos fazer é tirar o país da recessão porque vai se restabelecer a confiança do empresariado na política econômica, os investimentos que vêm caindo no Brasil há quatro trimestres, na medida em que a confiança voltar, vão acontecer de novo. E isso por si só, além de uma competente política fiscal, será suficiente para o país caminhar para uma normalização ao longo do ano de 2015. Mas a recessão já é uma realidade no Brasil.

Rever a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) é defesa do senhor?
O que é importante no mercado de trabalho é o país entender e tentar avançar para que hão tenha tantos litígios no mercado de trabalho. O Brasil é hoje recordista mundial de litígios no mercado de trabalho. Isso cria muita incerteza jurídica, muitos empresários que contratariam deixam de fazer porque ficam apreensivos em relação ao passivo que pode surgir. Isso incentiva muito a terceirização e também isso não é bom para o trabalhador e é uma distorção no mercado de trabalho brasileiro. Temos que diminuir a incerteza no mercado de trabalho para que mais gente possa ser incorporado ao mercado formal, com todos os direitos plenamente respeitados, ninguém vai tocar em nenhum direito do trabalhador. Isso (alterar o direito do trabalhador) está fora, não está no nosso programa e não há menor perspectiva de isso acontecer. O que nós precisamos entender é o que causa tantos litígios e tanta insegurança jurídica, que leva as empresas a temerem a contratar trabalhadores. 

Que medidas podem promover a redução dos litígios e oferecer mais segurança ao empresariado?
Isso (o problema dos litígios) condena milhões de brasileiros a viver numa enorme precariedade no mercado informal. Esse é o problema brasileiro. Ainda temos milhões de brasileiros na precariedade do mercado informal. Temos que avançar. Houve uma importante formalização e foi uma conquista brasileira, principalmente durante o Governo Lula e agora precisamos retomar o caminho de incorporar até reduzir ao mínimo a precariedade no mercado informal.

O senhor aponta a problemática, mas qual a solução?
Isso precisa ser estudado e ser entendido. O que não faz sentido é o Brasil figurar como o país que mais recorre ao litígio e mais gera conflitos trabalhistas porque isso é péssimo para todos. Péssimo para o trabalhador, péssimo para o empresário e péssimo para economia brasileira. 

Qual a relação que o senhor faz do desenvolvimento pregado pela presidente Dilma com a educação?
O PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostrou um índice de analfabetismo de 8%.
O analfabetismo no Brasil é muito maior do que esse número do PNAD porque esse número do PNAD é o analfabeto no sentido muito frouxo da pessoa que simplesmente sabendo soletrar o que ler é considerado alfabetizado. Se você for para o número do analfabetismo funcional, que é a pessoa que ler e entende o contexto, consegue relacionar idéias e consegue fazer conta, o número é muito superior a isso. 

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio mostra que metade da população tem computador. Isso é um fato que contribui para consciência do cidadão ou isso gera alienação?
Contribui, mas o Brasil está muito atrasado ainda. Metade é pouco. Deveríamos estar muito mais avançados na universalização da internet e da computação. Agora é um fato importante. É o século XXI chegando tardiamente no Brasil.


Fonte: Tribuna do Norte

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